
"... me perguntam longe daqui e aqui mesmo, entre espanto, ironia e inveja. Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, “embonitar” a coisa, e portanto distanciar-se dela,
apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito. Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer — e pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão. Melhor, claro, em certo sentido que significa também o pior: as mais nobres paixões são também as mais cadelas, como aquelas que enlouqueceram Adele H., levaram Oscar Wilde para a prisão ou fizeram a divina Vera Fischer ser queimada feito Joana d’Arc por não ser uma funcionária pública exemplar." (C. F. Abreu, A Cidade dos Entretons)
discordo plenamente, a paixão tem que ser cantada, dita, e vivida, mesmo que isto seja apenas uma ilusão que não vai se encontrar. mas o texto está certo quando diz que é melhor ficar calado. Eu sempre faço o contrário e me dou mal.
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